Por Sandra Perruci
É segunda-feira, início da noite. Ana chega tranquila à Unidade Municipal de Educação dos Andradas, escola no coração do bairro Aparecida, na cidade de Santos, cercada por conjuntos habitacionais, conhecidos como BNH. Ela sobe devagar as escadas até o segundo andar, com cuidado para não desmanchar o cabelo, alinhado com um lindo coque. Ela já está quase pronta com cores rosas cintilantes.
A poucos metros da escada uma porta se abre e ela sorri em meio à luz, aos espelhos e agitação da sala. É hora do ballet. Mas nem sempre foi assim.
Ana, cujo nome verdadeiro foi preservado, tem só sete anos e passa por acompanhamento psicológico depois de ter sido rejeitada pela mãe. Vivia triste, introspectiva e encontrou no ballet o instrumento perfeito para resgatar a auto-estima e descobrir um mundo novo. Mora com a avó paterna que está sempre junto nas aulas e é uma forte incentivadora.
Aninha é uma das meninas assistidas pelo Projeto Ballet, desenvolvido pela União de Amparo a Comunidade de Escolas Públicas - UACEP na comunidade do bairro da Aparecida. O projeto tem a parceria da Associação Lêda Mascarenhas de Queiroz. Em agosto a Associação se engajou na campanha para melhorar a estrutura física da sala de aula que recebeu espelhos, barras entre outros equipamentos.
Este trabalho busca ampliar o conhecimento e formação, introduzindo temas que são importantes para o desenvolvimento das crianças e o fortalecimento das famílias, esclarece a vice-presidente da Associação, Adriana Jandelli. Segundo Adriana, o ballet levou as duas entidades a se unirem em outras parcerias positivas que têm tocado vidas.
Para que Ana e outras meninas possam desfrutar das aulas de ballet que ocorrem dentro da escola municipal, a Prefeitura cedeu um espaço que foi adaptado com a ajuda de apoiadores. O projeto tem contribuído significativamente para mudar a vida dessas crianças, explica a professora e bailarina Luane Diniz. "O ballet é poderoso instrumento do desenvolvimento da criança e a disciplina que ele exige auxilia na formação da primeira infância".
Disciplina e foco
O ballet também aquece a determinação e por ela Laura, de oito anos, tem enfrentado o drama da separação dos pais. Vivendo em meio ao conflito de adultos que não se falam, Laura conta com o apoio do pai para participar do projeto. Ele compra as roupas, acompanha nas aulas e ela se arruma sozinha, sempre dizendo que sonha em ser bailarina. "Ele é um grande parceiro", conta a professora que lamenta o não envolvimento da mãe.
Depois de meses no projeto, a pequena Laura se mostra mais segura e focada para as aulas e menos ressentida com a ausência materna.
Muitas meninas chegam ao ballet retraídas, às vezes muito agitadas e, principalmente, com baixa-estima. Crianças de variadas idades, mas com histórias semelhantes de desestrutura familiar, abuso e abandono. "Precisamos acompanhar o tempo delas, mas nosso trabalho é romper com este desequilíbrio e resgatar o brilho por meio da dança", diz Luane.
Bastam alguns minutos observando a aula para perceber quantos brilhos voltaram. Concentradas, entre um intervalo e outro, elas conversam animadas e olham todo tempo para o espelho à procura de algo fora do lugar. Parecem buscar resgatar algo perdido ou apreciar um novo sorriso que surge. Sapatilhas alinhadas, cabelo impecável e sonhos refeitos elas se posicionam. O espetáculo vai começar.
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